Anticoncepcional: mitos e verdades (Parte I)

3 de junho de 2020

O uso de anticoncepcional levanta diversas questões e, por isso, muitas pacientes me perguntam diariamente coisas que ouvem por aí. E eu mesma leio e ouço informações sem fundamento ou embasamento científico, ou seja, os mitos e verdades sobre o tema acabam se confundindo. Sendo assim, decidi falar sobre o tema e sanar dúvidas que você possa ter!

Sempre me deparo com alguém dizendo coisas do tipo:

Anticoncepcional causa menopausa!!!

Mito: como pode o anticoncepcional causar menopausa?? O anticoncepcional age através de um estímulo contínuo de hormônio. Ele inibe picos de hormônio, principalmente LH, deixando-o em valores mais baixos (o que evita a ovulação), assim como ocorre na gestação.

Então será que isso é a menopausa? A baixa de hormônio???? Não!!! Menopausa é caracterizada pelo aumento absurdo de FSH  e LH. É como se seu cérebro gritasse: “Pelo amor!!! Me ajuda, manda estrogênio para mim!!!!“.

Com o anticoncepcional, o estradiol não faz picos em valores que variam de 10-200, mas continua produzindo hormônio. Se o anticoncepcional causasse menopausa, já imaginou como seria???? Um bando de meninas de 20-30 anos se queixando de calor, rubor, sudorese noturna, vagina seca, osteoporose e infartos. É um exagero metafórico de quem afirma algo assim!

A medicina é feita de fatos, entretanto muitas pessoas transformam fatos em versões, que podem parecer aceitáveis, então cuidado! A importância do anticoncepcional é histórica, um divisor de águas, a partir do qual a mulher pode escolher a hora de ser mãe.

Como toda medicação, tem seu lado bom e alguns efeitos adversos, pois não somos todos iguais, e uma porcentagem da população pode evoluir fora do que seria o ideal. Isto ocorre para qualquer medicação e tratamento. Não é exclusivo do anticoncepcional.

Anticoncepcional x trombose

A trombose com uso de anticoncepcional ocorre em 6-8 a cada dez mil pacientes jovens. Se considerarmos a população que não toma anticoncepcional, na mesma faixa etária, o número cai para 4-5 pacientes a cada dez mil.

Para se ter uma ideia, se ocorrer concepção, os níveis de estradiol continuam a aumentar, alcançando níveis de 1.000 a 5.000 pg/mL durante o primeiro trimestre, 5.000 a 15.000 pg/mL durante o segundo trimestre e 10.000 a 40.000 pg/mL durante o terceiro trimestre. Por isso, o risco de trombose na gestação e puerpério é 60 vezes maior do que em qualquer outra fase da vida, podendo chegar a 300 mulheres a cada 10 mil pacientes.

Sabemos, assim, que uma parte pequena da população apresenta fatores genéticos que alteram sua coagulação, e é esta população que vai ter trombose. Então concluímos que anticoncepcional pode levar à trombose, mas este risco é muito pequeno, frente ao número de problemas que ocorrem de gestações indesejadas, de meninas que morrem no parto ou de outras complicações.

No próximo post, falaremos sobre infertilidade, efeitos do hormônio sintético e saudabilidade. Acompanhe!