Os temas de hoje são sobre o filme “Pedaços de uma Mulher” e parto domiciliar. “Pedaços de uma Mulher” é um filme da Netflix que abrange o sentimento da perda de um filho e, no fundo, fala sobre partos domiciliares – de seus benefícios e riscos.
A maioria de nossos colegas não corrobora com essa escolha pela falta de infraestrutura e pelo fator cultural que envolve isso. Seria muito interessante investir em algo assim, mas num país continental como o nosso, com tantos problemas e desigualdades, a logística e investimento econômico não encontram eco para esta investida.
Muitas maternidades aqui em São Paulo têm investido nesta estrutura de salas de parto humanizadas, principalmente no Hospital Albert Einstein e no Hospital e Maternidade São Luiz, por uma questão filosófica e de princípios, e não por fatores econômicos – o que já leva um grande mérito a estas instituições. Assim, elas nos deixam à vontade para esperar a evolução e colocam toda tecnologia possível à nossa disposição, desde cardiotocografia até ultrassom em sala.
Por que você optaria por um parto domiciliar??
• Primeiro, trata-se de algo cultural na maioria dos lugares em que esta opção existe;
• Por anos, os partos foram feitos em casa por mulheres;
• Desejo de dar à luz sem intervenção médica, como analgésicos, aumento do parto, indução do parto ou monitoramento da frequência cardíaca fetal;
• O desejo de dar à luz em um lugar confortável e familiar cercado pela família;
• Insatisfação com o atendimento hospitalar;
• Um desejo de liberdade e controle no processo de nascimento;
• Preocupações religiosas;
• Falta de acesso a transporte (como em muitas cidades do interior ou na África);
• Custo mais baixo.
Existem situações em que um parto domiciliar planejado não é recomendado?
O American College of Obstetricians and Gynecologists adverte contra o parto domiciliar planejado se:
• Você está grávida de múltiplos;
• Seu bebê não se acomoda em uma posição que permite um parto de cabeça;
• Você já teve uma cesariana;
• Se você não terá acesso imediato a um hospital com infraestrutura em caso de complicação.
Acho que o Brasil não possui este quesito. Normalmente, os centros de referência em maternidade têm um acesso muito complicado em metrópoles. O trânsito, a demora da chegada da ambulância e os minutos aqui contam como horas.
O grande problema são as intercorrências que exigirão uma intervenção imediata. Imagine sair de sua casa, pegar trânsito, chegar ao hospital, lidar com a parte burocrática de internação e vaga – nisso, os minutos vão se somando.
É diferente do que ocorre na Europa, onde o sistema de saúde é basicamente público e igual para todos. Em alguns países, como a Holanda, 22% das mulheres dão à luz em casa com parteiras certificadas em um sistema projetado para promover a cooperação e facilitar as transferências para o hospital, se necessário.
Mas nem tudo são flores. Em uma revisão de 2008 de 680.000 casos, partos domiciliares em mulheres de baixo risco provaram ser tão seguros quanto partos hospitalares quando não haviam complicações. Porém, resultaram em uma taxa perturbadoramente grande (eu diria aterrorizante) de 20% de morbidade e mortalidade neonatal quando complicações inesperadas surgiram durante o parto domiciliar.
Outros estudos holandeses levantam preocupações sobre vários marcadores de mortalidade perinatal – em que a Holanda está entre os mais altos da Europa, com uma taxa geral de 3,2 por 1.000 nascimentos a termo.
Assim, apesar de achar a ideia muito estimuladora, nossa realidade ainda não é esta. Então, cabe a nós, médicos, lutarmos pelo parto normal da forma menos agressiva possível e na máxima segurança, porque infelizmente fatalidades podem ocorrer. Mas se você fizer tudo certo, dentro de um ambiente com todos os requisitos e tecnologia a seu favor, isso é minimizado e sua consciência fica tranquila.
O que pode causar a necessidade de transferência para o hospital?
Durante um parto domiciliar planejado, você pode precisar ser transportado para um hospital para monitoramento ou tratamento se houver complicações, como:
• O trabalho de parto não está progredindo;
• Seu bebê mostra sinais de sofrimento fetal, coração com baixos batimentos ou altos demais;
• Seu bebê se apresenta em uma posição diferente;
• Você precisa de analgesia;
• Você tem pressão alta;
• Você apresenta sangramento importante.
Quais são os possíveis riscos de um parto domiciliar planejado?
Pesquisas sugerem que os partos domiciliares planejados estão associados a um risco maior de morte infantil e convulsões do que partos hospitalares planejados.
Existem vários fatores que podem reduzir os riscos dessas complicações, incluindo ter:
• Assistência de uma enfermeira-parteira certificada;
• Acesso a um médico obstetra praticante;
• Um plano de transporte de emergência para o hospital mais próximo;
• Você deve chegar lá em menos de 15 minutos.
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